quinta-feira, 30 de abril de 2015

Rubrica: Histórias do avesso -Título: Mas eu também morri?

Sinto o cheiro do salmão fumado que a Mãe está a preparar para o jantar. É um dia normal mas, de repente, oiço um barulho ensurdecedor contra a porta, uma, duas e três vezes... A porta é derrubada. Um medo enorme envolve-me o coração, não sei o que devo fazer. Oiço os lamentos da minha mãe e um som discreto de teclas do telefone a serem marcadas, talvez haja esperança. Um tiro soa fortemente, o que terá acontecido? Continuo a escutar os choros da minha mãe agora mais intensos que nunca. Um segundo tiro é disparado, e um silêncio assustador inunda a casa. Os degraus da escada rangem com os passos pesados dos bandidos. Penso no que fazer mas nada me ocorre, é então que me lembro do Carlitos, o meu irmão mais novo, já com as lágrimas nos olhos corro para o quarto ao lado e Pum! soa o terceiro tiro. Entro pelo quarto de Carlitos e vejo o seu pequeno corpinho sem vida caído no chão. Viro-me e lá estão eles, os homens que mataram toda a minha família, recuo até à parede, fecho os olhos e cerro os punhos, é agora! Oiço o barulho da arma a ser preparada, e finalmente soa o quarto e quinto tiro. Abro os olhos surpreendida e encontro-me no mesmo local, os dois assassinos mortos junto aos meus pés, e por trás um polícia gordo ainda com a arma imponente. Sigo-o até ao andar de baixo onde uma mancha de sangue me guia ao sítio onde os meus pais foram mortos. Entro no carro da polícia e durante a longa viagem para a esquadra, enquanto observo as pequenas gotas de chuva que escorregam pela janela, uma pergunta não me larga a cabeça: Mas eu também morri?

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