E se fosse eu? Não a fazer a típica mochila para a escola repleta de livros e material escolar, ou a mala para quando vou de férias para algum lugar incrível... Mas a deixar tudo para trás e partir como refugiada... Dói-me ver como essas crianças sofrem e nunca me imaginei na situação delas mas quem não me garante que um dia isso não venha acontecer? Se um dia chegasse a casa da escola e a minha mãe me dissesse "Margarida, temos de ir, o país entrou em guerra, temos de partir para ficarmos seguros" a principio provavelmente não iria acreditar, talvez até soltasse uma pequena gargalhada mas quando percebesse que realmente era verdade as lágrimas iriam certamente brotar dos meus olhos... Um enorme aperto tomaria lugar no meu oração ao pensar naquilo que perderia: os meus amigos, talvez nunca voltasse a vê-los; a minha cidade; a minha casa, o meu lar... Iria gritar com a minha mãe e dizer-lhe que não partiria sem os meus amigos, ligar-lhes-ia mas senão atendessem não haveria nada a fazer e teria de lhes dizer "Adeus" sem na realidade o fazer, passaria cada dia a partir daquele a imaginar o que lhes teria acontecido. "Faz a mala" diria-me a minha mãe na sua voz doce, avançaria para o meu quarto e olharia em volta e naquele momento tudo me pareceria essencial mas saberia que teria de escolher... Levava as minhas calças de ganga e duas camisolas quentes, bem como alguma roupa interior; o meu diário pois escrever é essencial para mim, e uma caneta; o meu telemóvel (lá tenho todas as minhas melhores fotografias); o seu carregador e uns auscultadores pois talvez a música fosse a minha salvação; levava uma carteira com todas as minhas poupanças; levava uma garrafa de água e uma caixa de bolachas; e levava o ursinho de peluche de infância para que quando tivesse vontade de chorar me o agarrasse com força contra o meu peito.. E mais importante levava comigo todas as recordações gravadas para sempre no meu coração...
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