Tinha apenas cinco anos quando ele partiu, cinco anos a escutar, sempre escondida no meu canto aquelas discussões infinitas, cinco anos com o medo o receio e a dor... Durante esses cinco anos vivia sempre na sua sombra, tanto eu como ela, as duas assombradas pela sua figura imponente e tenebrosa. Eram poucas as vezes em que se mostrava arrependido, em dizia "Desculpem-me" e ela sempre o perdoava mas um dia depois, às vezes nem tanto, voltava ao que era antes... Não sei se ela fez o acertado mas a partir daquele momento sempre tivemos paz, pude crescer sem pavor, sem restrições e guerras. A partir do momento em que sai pela porta do meu refugio e o vi ali estendido no jardim, tudo melhorou... Recordo-me apesar de enevoadamente, olhei para cima e lá estava ela com as lágrimas a correrem-lhe pela cara abaixo. Posso ser egoísta mas a verdade é que nunca senti a sua falta, nunca senti a falta do meu pai.
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